sexta-feira, 31 de julho de 2009

Saída de Emergência a Sua Direita




São Paulo, inverno de... de algum ano.
Estou agora numa rua que dá para toda a solidão do mundo, e de forma medíocre, trabalho incessantemente para nada mais perceber. Apenas concentro-me nos passos úteis , percorrendo o caminho com pretensa alegria. A variedade é infinita, as opções são toleráveis, entretanto, Oh deus, nada me chama atenção naqueles pequenos lugares acomodados de vinho e pão. Então com profunda miséria, encho meus pulmões com força, e expiro toda a sensação desesperada de que o meu “lar” é devaneio, formado unicamente pela minha louca vontade de se encontrar.
Assim, como outrora já fazia, continuei com meu exercício de anti - desespero (inspira e expira - nunca funcionou, mas por criar o habito de faze-lo já não poderia abandonar aquele ritual sem propósito), e continuei andando. Não sei ao certo descrever quanto tempo, mas posso afirmar com propriedade que não foram minutos, mas se trataram de horas a fio. Quando despertei do transe, vi que andara bem mais que agüentava, e agora estava perdida com meu tempo perdido.
Como numa esfera surreal, um painel ao meu lado acendeu, e piscou em letreiro grande e espalhafatoso a “última semana da peça Saída de Emergência A sua Direita”.
Isso me chamou atenção, isso sim seria o ultimo pulsar daquela tarde penosa, e eu teria que aproveitar o interesse e calor humano que aquela peça poderia me proporcionar.
Ah, não haveria novas culpas, nem soluços de alguém que questiona a existência; Hoje a vida daria uma oportunidade, e se pela primeira vez a porta abrisse, Eu Me Permitiria, Eu Entraria!
E assim sucedeu. De forma mecânica, apenas Entrei.


1° Ato - Elephant Gun
O espaço estava envolto de escuridão, onde nenhum raio covarde de luz atreveu-se a passear, então de forma oscilante e confusa, me acomodei em algum espaço que acreditava ser a parte central da platéia e lá esperei comodamente a jovialidade da velha magia. Aquela altura já havia percebido que eu seria a única “testemunha”, a única ouvinte, e a única cúmplice do que aconteceria aquela noite, não posso negar que a solidão se acentuou de forma aguda, porem quando eu me preparava placidamente para angustia, uma luz, forte e imponente, se estabeleceu num canto extremo do palco.
O canto mais exilado do palco era onde a luz agora jazia, e de repente, não mais que de repente, entrou uma mocinha que só tinha de seu A alma, a cadeira suspensa sobre o braço direito, e um not book no esquerdo, e de maneira sistemática, ela posicionou a cadeira de forma precisa, muito perto da Saída de Emergência, que estava a sua direita, limitou-se a sentar, abrir o Notbook, e congelar! Sim, a menina ficou desprovida de formas, vida, cor... Agora parecia que suas veias corriam cimento, e de criatura fez-se moldura.
Logo em seguida, outro foco de luz noutro canto extremo do palco. Agora entrava um rapaz, ele também trazia sua Alma, sua cadeira, seu Note, e do mesmo gestos da menina se valeu o rapaz, entretanto, após abrir o NotBook o rapaz gritou em minha direção:
_Teatro para Alguém!
Sentou-se, calou-se, e enfim sua expressão empalideceu e virou mármore.
Imóvel, permaneci na poltrona, mas aos poucos me sentia desconfortável com o fato de estar tão grandiosamente sendo a única platéia da peça, figurinha exposta, e aquilo começou a me causar sinais típicos de pessoas nervosas - agarrar as mãos com força brutal e envolve-las uma nas outras freneticamente, depois os sintomas passaram por “Cruzar as pernas” da direita pra esquerda, da esquerda pra direita, tal era o ritmo da aflição.
Como duas figuras, os dois desenferrujaram no mesmo instante e se puseram a focar fixamente na tela, com um leve brilho nos olhos a escapar.
Ambos tinham algo que era familiar, algo que inspirava “compatibilidade”, intimidade morna, digna de, toda e qualquer, nota.
Com destreza, comecei a reparar na expressão de ambos. Quando um franzia o cenho de nervoso ou impaciência, o outro, ainda que distante, percebia de alguma forma e fazia um singelo biquinho que exprimia aquele arrependimento, aquela ausência, aquela vontade de ser intimamente do outro.
Lagrimas Iguais, sonhos iguais, medos iguais, gostos iguais, teorias iguais. Assim foi composto o 1° ato.
Dois extremos distantes, que se encontraram, e se desejaram. Certamente lagrimas correram de dor, caindo na ferida aberta da saudade, da ausência.
Por vezes, a menina, que se mostrou muito impaciente, levantou-se abruptamente e encostou-se na Saída de Emergência, paralisada ela permanecia alguns minutos, não obstante, desagarrava-se da porta também com a mesma agilidade e percorria o palco, querendo se perder, mas também querendo se achar, concluindo assim, acabara por sempre voltar à cadeira e abrir o Notbook, esquecendo por minutos A iminente Saída.
O rapaz já aparentava ter mais cautela, mais calma e paciência. Este por vezes olhou para a Saída de Emergência a Sua direita, porém, ele calculava imóvel e logo depois focava também seus olhos no monitor. “Ah este rapaz, sempre pensando, parece ate meu namorado” Pensei, mas antes não o tivesse pensado. De forma terrível e exposta vi minha vida, meu amor, minha historia.
De Súbito, levantei-me com vigor e caminhei dignamente ate o palco. Se esta era a historia da minha vida, nada mais justo que eu falasse por mim.
Assim subi ao palco, onde os dois personagens já se retiravam. Aquilo foi estranho, esperava ter lutado com argumentos ferozes o direito de atuar na minha historia, mas como se fosse previsto a hora que eu entenderia e me indignaria, os dois se puseram prontamente a sair.
Os notbooks foram fechados. E senti que meu amor, também saia agora da PLATEIA DE SI MESMO.



Começa o segundo ato. Diante de Ti, Apenas Sou!!!



E quando ela subiu ao palco todas as luzes do teatro apagaram, um silêncio frio tomou conta dela.
Os dois atores já não estavam mesmo lá e assim sentiu que uma parte dela também não, observava todo
o palco, caminhou até o centro e resolveu sentar. Estava sozinha mas ao mesmo tempo ouvia milhares de vozes, e não via ninguem.
E como de súbito as luzes acenderam, uma música começou a tocar, como numa coincidencia impar
era a música da vida dela. Aquilo soava tão delicado nos seus ouvidos como se as notas musicais fizessem caricias no seu rosto, ela já quase adormecera.

O volume da música aumentou, e ela viu alguem se levantar da platéia - Mas como? Ela não era a única ali ? Tinha sido seguida?! Ou alguem mais necessitava fazer da saida de emergência?!
Não podia ver com precisão, mas o rapaz que se levantou, tinha certa semelhança e a fizera lembrar o ator que outrora estava num dos extremos do palco.
Olhava atenta pra ele, e o ritmo das batidas do seu coração aceleraram, como se ele quisesse saltar fora.
Mas não ousou em levantar, continuou sentada, com seu vestido branco que se espalhava no chão.


Assistido por mim !

Eu me lavantei e , devagar fui caminhando até o palco, sentia meu corpo tremer, minhas mãos estavam congeladas
e respingavam suor. Minha ansiedade não me deixou continuar com passos timidos, então resolvi correr até o palco, a
música não parava, e o volume constantemente subia. Os elefantes corriam daquelas armas.
Degrau por degrau, devorei aquelas escadas, a menina ainda estava lá. Palida, seus olhos embotados de solidão, mas parecia se divertir
com a música, como alguem que recebe caricias do seu amor.
Não hesitei em me aproximar, afinal ela deveria saber pra onde foram aqueles dois atores, aos quais um era extremamente parecido comigo, e a
outra exatamente ela.

Comecei a caminhar em sua direção, mas o palco se extendeu por um momento, e se perdia numa imensidão. Ela continuava a olhar pra mim.
Eu estava euforico, tinha milhões de perguntas dentro de mim, que lutavam para sair. Cheguei perto, e quando me atrevi a abrir a boca,
ela foi mais rápida e disse logo: - Psiu, fica quietinho.
Não tive vontade de dizer mais uma só palavra. Me sentei ao seu lado e apertei forte a mão.

Nesse momento estavamos numa sensação de extase total, a música cada vez mais alta, a frio mais intenso, e nós dois ali sentandos
no meio daquele palco do imenso teatro, paralisados e sufocados, de intensa emoçao.
O tempo passara, a música cada vez mais longe, mas eu não queria que aquilo acabasse, e pude sentir, que ela tambem não.

Encostou a cabeça no meu ombro, e lentamente cerrava os olhos, sua respiração ficava cada vez mais timida. Dormiu!!
Eu fiquei ali, de pronto admirando toda sua beleza.

Ela não viu mas os atores que encenavam no palco, estavam lá na ultima fileira de cadeiras do teatro. Um ao lado do outro, e aplaudiam euforicamente
tudo aquilo que acontecera ali.

AS LUZES SE APAGARAM, TODAS AS PORTAS DO TEATRO JA ESTAVAM FECHADAS. INCLUSIVE AS DE " SAIDA DE EMERGÊNCIA ".

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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Menina da Terra da garoa.


E de repente você fez de mim seu brinquedo de natal, aquele que se espera durante meses e, quando se ganha dá um abraço forte e não se quer largar.
Nosso abraço dado debaixo daquela garoa fina, que parecia sereno. Naquele dia frio você apareceu com seu cachecol vermelho, seus olhos brilhavam e dentro deles parecia haver rios de curiosidade, e vontade de acabar logo de vez, com aquele seu assunto inacabado.
Meus olhos deviam entregar tambem toda felicidade e todo receio bobo.

Mas sobre o abraço foi o mais sincero, tão apertado que eu posso comparar ao meu coração. E você disse baixinho: " - Fica quietinho ". você disse com essa sua voz doce, voz de Jujuba. Disse enquanto eu nao me aguentava dentro de mim. E com toda sua experiencia que só os filhos únicos tem, pegou na minha mão e decidiu que devia me guiar.

E foi assimque colocamos fim ao inicio de tudo.
E foi assim que de uma maneira que,não me julgo capaz de explicar, nos tornamos intimos como aquele casal em lua-de-mel.

Eu já me sentia recompensado,foi quando alguem em algum lugar decidiu que mereciamos mais. Sentando ao teu lado me sentia tão a vontade, como aquele parente que vem do interior para passar o verão e fica até o inverno.

Eu notava em você a todo momento teu sorriso timido, suas palavras pra lá de cuidadosas, seu olhar confortante, suas curiosidades, seu jeitinho que deveria ser minha namorada, eu percebi toda nossa semelhança. Percebi você.

E POR FIM DA FOTOGRAFIA SE FEZ O BEIJO.

segunda-feira, 27 de julho de 2009


Porque você é uma menina como uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram
sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas
estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu
cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair
para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você
se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você
é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, “Minha namorada”,
a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche
de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobre tudo porque você é uma menina com uma flor.

sexta-feira, 24 de julho de 2009


" o apego desesperado ao próprio eu, a desesperada ânsia de viver,
são os caminhos mais seguros para a morte eterna, ao passo que o saber morrer, rasgar o véu do mistério.
Ir procurando eternamente mutações em si mesmo, conduz à imortalidade. "